“Cemitério Maldito”: terror com toque de melancolia

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Por Mirella Stivani

Você já deve ter visto ou ouvido falar do”Cemitério Maldito” (de 1989), filme que foi baseado no livro “O Cemitério”, escrito por Stephen King, o mestre do terror na literatura. Assisti ao longa quando era mais nova e, finalmente, no ano passado consegui ler o original. Posso dizer que muito pouco ser perdeu na  transposição para telas e o que ficou claro para mim é que a história não é nada assustadora. Na verdade, “Pet Sematary” (nome original em inglês) trata mais sobre a tristeza, melancolia e não aceitação da morte.

Se você ainda não leu o livro ou viu o filme, tudo que vem a seguir é spoiler. Mas, se já, sabe muito bem do que se trata: a tragédia da família Creed que vai morar perto de uma autoestrada e perde o filho atropelado.

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Bem resumido (pois se eu entrar em todos os detalhes, principalmente do livro, daria para escrever outro livro): a família Creed muda-se para uma nova casa no Estado norte-americano do Maine e rapidamente faz amizade com o vizinho, um velho homem chamado Jud Crandall.

A casa parece perfeita, mas, têm dois detalhes que acabam por transformar totalmente a vida da família. Na frente da residência, existe uma autoestrada, onde caminhões passam freneticamente em alta velocidade. Atrás, existe uma trilha que leva a um lugar misterioso; logo descobrimos ser um cemitério de bichos, criado pelas crianças da região, que perderam seus animais atropelados justamente aonde? Na estrada, claro. Daí vem o nome Pet Sematary, o original em inglês, que significa “Cemitério de Animais de Estimação”. Na grafia inglesa, o correto seria cemetery. A ideia é justamente mostrar que foi uma criança que batizou o lugar.

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Só que um pouco além do terreno do cemitério de bichos, existe um lugar maligno, terras que pertenceram a tribo indígena Micmac. Simplesmente, qualquer ser que tivesse perdido a vida, se ali fosse enterrado, voltaria a viver. A viver – será?

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Pois é nesse ponto que vejo a história com seu tom melancólico (que é muito mais visível e explícito no livro do que no filme). Uma sucessão de fatos leva a tragédias horríveis. Primeiro, para não deixar a filha triste, Louis, o pai da família Credd, enterra seu gato, que foi atropelado na estrada, nas terras dos Micmac. O bichano volta, mas de um jeito estranho e do mal.

CURIOSIDADE: Stephen King morou em uma casa exatamente como a descrita no filme, existia um cemitério de bichos bem pertinho. Inclusive, a ideia do livro surgiu quando o gato de sua filha foi enterrado lá, após ser atropelado…

Voltando à ficção: quando seu filho menor morre atropelado, na estrada, Louis, desesperado pela dor, decide enterrar a criança no cemitério maldito. Mesmo quando Jud Crandall, o vizinho, avisa que há muitos anos um pai já tinha tentado fazer exatamente isso e o resultado foi desastroso. Que o rapaz havia voltado (vivo?), mas era um corpo destruído, possuído por uma alma atormentada e do mal.

Mesmo assim, Louis enterra o filho e a criança (um menino de três anos) volta, mas mata o vizinho Jud e sua própria mãe. Só não mata Louis, porque ele teve que passar pela difícil decisão de acabar novamente com a vida do filho (que tinha virado um pequeno monstro). Mas, ainda não conformado com as sucessivas dores, Louis volta ao cemitério para enterrar a esposa, com a certeza que dessa vez daria certo, ela retornaria viva, exatamente como era antes.Não deu, obviamente. O livro acaba e fica claro que, pelo menos, as dores de Louis também terminaram. Ou não….

Sim, o livro é de terror porque existe a presença de espíritos cruéis, malignos, que só querem a chance de possuir corpos para espalhar mais terror ainda. Influenciam a mente das pessoas, principalmente, quando estão fragilizadas pela dor.King foi bem detalhista nos procedimentos funerários, o que pode causar desconforto. Na verdade, é a realidade sobre a morte. Um assunto do qual não gostamos de falar…

Porque não existe nenhuma solução para a morte. Quem se foi, nunca mais vai voltar. E quem ficou, vai ter te aprender a lidar com a ausência, por mais doloroso e desesperador que seja. Soluções mágicas não existem e o que nos resta é se conformar com o início, meio e fim. Por mais que o fim leve muito da gente e deixe muito na gente.

Eu nunca tinha pesquisado nada sobre o livro, tirei minhas próprias conclusões. E, antes de escrever esse texto fui dar aquela “fuçada” no Google e veja o que achei. Em uma entrevista dada no ano seguinte ao lançamento de “O Cemitério”, King disse, “Se eu pudesse escolher, provavelmente não teria publicado esse livro. Eu não gosto dele. É um livro terrível – não pela escrita, mas pelo conteúdo profundamente dark. Ele parece dizer que no final das contas não há esperança, que nada que se faça no final vale a pena.”

Para aumentar ainda mais esse tom de melancolia, a canção-tema do filme foi composta pelos Ramones (escolha do próprio King, fã dos punk rockers), cujo refrão é emblemático: “eu não quero ser enterrado no cemitério de bichos/ eu não quero viver minha vida de novo”.

 

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